Andava pela rua, aflito e ansioso. Tentando chegar não sabendo aonde. Ou não chegando a tentar. Beirava o pânico quando uma mão grande e pesada se colocou no meu ombro e uma voz murmurou:
"Filho!!!"
Quando olhei para a mão de dedos desossados e algumas poucas unhas quebradas. Quando esse olhar acompanhou o braço descarnado até alcançar o ombro e o pescoço de onde se viam alguns ossos salientes.
Quando enxerguei as órbitas amendoadas e profundas, reconheci meu pai em um arremedo de defunto. Seu cabelo, ou o que havia dele, se misturava com a barba em tons de cinza, branco e vermelho.
Não vestia roupas, nem tampouco tinha muita carne e pele para vestir.
Em um instante de reconhecimento, agarrou-me fortemente pelos braços e com um olhar de cortar minhas pálpebras deixou sair mais uma vez a voz murmurante:
"Não deixe passar esta vez, filho!
É a sua última chance!"
As mãos enormes, que um dia me seguraram no colo, e o seu arremedo de corpo se desfizeram no exato momento em que acordei suado, mijado e cagado.