Dai ela me pergunta:
"Pai, qual a sua religião?"
Engulo seco. Sabia que essa pergunta difícil viria, como outras tantas virão.
Explico que fui batizado. Portanto, cristão.
Mas como explicar a inexistência de D'us? Como explicar as atrocidades cometidas em nome de um deus? Como explicar as outras cometidas em nome de divindade alguma?
Acordo dia seguinte e o tema é retomado enquanto ela parte para catequese por vontade própria. Ela, por influências várias, se diz católica e evangélica, mas quer fazer primeira comunhão. A decisão é dela e isso é respeitado.
Explico superficialmente a base da tríade da religiosidade ocidental: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.
Busco mostrar que a igualdade e o respeito a todos é o mais importante. Cito Moisés, cito o Alcorão, cito Mateus, cito Erasmo de Rotterdam.
Conto a minha parábola das formigas, pois biólogo sou. Pergunto a ela se quando vê um formigueiro e suas formigas ela diferencia uma formiga das outras. Se ela vê uma formiga ruiva, loira, negra ou asiática. Falo para ela que acontece a mesma coisa com os seres humanos. Pergunto se alguém de fora, vendo de muito longe a humanidade, saberia diferenciar os seres humanos.
Ela me diz: "É pai! Somos todos humanos."
Sorrio, pois acho que o começo do caminho parece promissor.
O resto do dia promete em conversas sobre o tema.
Uma coisa sei: ela se maravilha com a natureza e o cosmo, e tem uma alma lírica e pragmática.
Talvez seja a hora de explicar que a Natureza é uma das maiores "divindades".
E que o melhor caminho é o respeito.
É bom ser pai. É difícil ser humanista.
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