Olhou por um instante para ela e acreditou ver um reflexo de
si.
Pelo menos era assim que queria que fosse aquele instante.
Ela nunca conseguiu aceitá-lo.
Nem sequer enxergá-lo como de fato era.
Ela tinha sempre suas definições definitivas a respeito
dele.
E sua intolerância.
Ela não queria aceitar o amor dele.
Não enxergava a presença.
Desprezava os sentimentos dele.
E ele aquiesceu, como aceitam os que se sentem responsáveis
por erros que cometeram no passado, e jamais foram perdoados.
Não compartilhavam a mesma opinião sobre o amor. Como podia
ele querer que ela fosse o espelho dele.
Na verdade talvez ela o fosse.
Como todo reflexo, um reverso do que reflete.
Um contrário ou uma contrariedade.
E ele pensou nas diversas definições de amor e escreveu:
"Amar é também saber-se o outro.
Querer tocar a alma do outro.
E se solidarizar.
Não há amor sem compaixão, generosidade, gratidão ou
humildade.
Amar é também vestir a pele do outro e sentir seus calores,
dores, coceiras e arrepios.
Amar é necessidade.
Por isso a amo.
Não da forma que mo impõe, mas da única forma que sei
fazê-lo."