quinta-feira, 29 de março de 2012

Pedra

Não fora apedrejado até a morte como seus irmãos, irmãs e outros parentes. Mas constantemente ao andar pela medina alguém lhe jogava pedras. Algumas acertava-lhe a cabeça e machucava de sair sangue. Outras acertavam-lhe o peito, a barriga e o baixo ventre. Apesar disso se acostumara a guardá-las. Chegava em casa e as colocava num cesto ao lado da cama de palha no chão do quarto.

Naquele dia, cansado dessa rotina deixou as 5 maiores pedras sobre a mesa da sala, escreveu uma carta e a deixou sob as pedras. As lágrimas borraram os traços sobre o papel.

O que estava escrito nunca se soube, nem tampouco o motivou a fazer o que fez a seguir.

O que se encontrou além da carta sobre a mesa foi um banco caído, um lençol amarrado no mastro principal do telhado e preso no seu pescoço. Encontraram uma foto da esposa caída no chão com os vidros quebrados e uma pedra grande ao lado.

Talvez tenha morrido sonhando que ser apedrejado até a morte lhe dava mais honra que estar casado com quem o odiava tanto.

29 de março de 2012 às 23:18