sábado, 23 de maio de 2015

Coexistir

Dai ela me pergunta:
"Pai, qual a sua religião?"
Engulo seco. Sabia que essa pergunta difícil viria, como outras tantas virão. 
Explico que fui batizado. Portanto, cristão. 
Mas como explicar a inexistência de D'us? Como explicar as atrocidades cometidas em nome de um deus? Como explicar as outras cometidas em nome de divindade alguma?

Acordo dia seguinte e o tema é retomado enquanto ela parte para catequese por vontade própria. Ela, por influências várias, se diz católica e evangélica, mas quer fazer primeira comunhão. A decisão é dela e isso é respeitado. 

Explico superficialmente a base da tríade da religiosidade ocidental: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. 
Busco mostrar que a igualdade e o respeito a todos é o mais importante. Cito Moisés, cito o Alcorão, cito Mateus, cito Erasmo de Rotterdam. 

Conto a minha parábola das formigas, pois biólogo sou. Pergunto a ela se quando vê um formigueiro e suas formigas ela diferencia uma formiga das outras. Se ela vê uma formiga ruiva, loira, negra ou asiática. Falo para ela que acontece a mesma coisa com os seres humanos. Pergunto se alguém de fora, vendo de muito longe a humanidade, saberia diferenciar os seres humanos. 
Ela me diz: "É pai! Somos todos humanos."
Sorrio, pois acho que o começo do caminho parece promissor. 
O resto do dia promete em conversas sobre o tema.

Uma coisa sei: ela se maravilha com a natureza e o cosmo, e tem uma alma lírica e pragmática. 

Talvez seja a hora de explicar que a Natureza é uma das maiores "divindades". 
E que o melhor caminho é o respeito. 

É bom ser pai. É difícil ser humanista.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Bonita

Tenho os olhos para quem eu amo.
Mas não é isso que a torna bonita.
A boniteza já estava lá quando a conheci.

Os olhos com que olho
São os olhos do fotógrafo
E do radiógrafo
E do astrônomo
E do pintor
E do escritor.

Pois enxerga beleza
Do sorriso até as infinitesimais estrelas do seu corpo.

Criancice

No labirinto de espelhos da Cidade das Crianças, Carlos encontrou Judite perdida e assustada.
Segurou na mão dela e falou: "Confia em mim! Não sei como se sai daqui mas sei que tem saída."
Naquele dia os dois dormiram com o gosto do mesmo algodão-doce na boca.

19 de Abril de 2011