quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Escrotidões Humanas I

Beijou-lhe a testa e com compaixão olhou para o menino a sua frente e disse:
"Vá em paz! Que Deus lhe acompanhe!!!"
Logo que o garoto saiu, Padre Camilo, arrumando as calças, disse ao coroinha:
"Da próxima vez, vê se me traz um de banho tomado. Esse menino tava com uma murrinha dos diabos."

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Mística

Em muitas religiões pré-monoteístas, que até hoje existem, tais como o hinduísmo, jainismo, xintoísmo, zoroastrismo etc. Os símbolos de prosperidade e anseios de riqueza material nunca foram desvinculados da fé e de entidades que representavam isso. Até o budismo, onde as divindades são símbolos para não alcançar o bem material mas sim a meta do fim do sofrimento, eles tem seu lugar.
Nas religiões monoteístas, essas divindades foram substituídas por uma única. A ela se pede toda as necessidades e a ela se faz todos os sacrifícios, mas a essência continua a mesma.
Dentro delas, cada uma seguiu sua vertente. Uma acredita que um messia virá redimir a todos, outras acreditam em um juízo. Outra acredita que já estamos julgados e outra criou seu próprio panteão de santos pra substituir as antigas divindades.
Que mal há nisso?
Nenhum!
Todos são símbolos, se ao orarmos sempre nos lembrarmos que o D'us verdadeiro está em nós e só ele pode mudar o nosso destino e o do mundo.
Amém.
Por isso busco entender as palavras de Yoshua Christòs Ben-Youssef, de Sidarta Buda Gautama, de Valmiki, de Vyasa, de Moishe, de Mohamed, de Sócrates, e de tantos outros que um dia tentaram entender o caminho do fim da dor.
Seja simbolicamente, seja pelo sentimento ou pela razão.
Meu panteão é grande.

Canção de Redenção

Migalhas oferecidas
Promessas não cumpridas.
Doenças
Red(e/o)nç(õ/a)es
Assim minha vida se compôs.

Aleijado de uma alma
Órfão
De pai e órgãos.
Um déficit
Uma meia vida
Não tóxica
Mas mortal como qualquer elemento radioativo.

Sou

Eu ia te escrever um email do quanto tentei ser tudo pra você, mas pensei bem e cheguei conclusão de que não tentei nada.
Eu fui.
Fui flerte.
Fui paquera.
Fui amante.
Fui opção.
Fui rejeitado.
Fui rejeição.
Fui beijos.
Fui palavrão.
Fui abraços.
Fui arranhão.
Fui sorriso.
Fui lágrimas.
Fui amor.
Fui amado.
Fui segundo.
Fui o primeiro.
Fui chefe.
Fui colega.
Fui leal.
Fui mentiroso.
Fui enganado.
Fui presente.
Fui palhaço.
Fui carrasco.
Fui médico.
Fui doente.
Fui paciente.
Fui explosão.
Fui monstro.
Fui fera.
Fui noites bem dormidas.
Fui insônias eternas.
Fui o grão de areia.
Fui o universo.
Fui o homem.
Fui a mulher.
Fui errado (Ah! Como fui!)
Fui certo, tantas outras vezes.
Fui promotor.
Fui advogado.
Fui juiz.
Fui réu.
Fui vítima.
Fui júri.
Fui acusado.
Fui condenado.
Fui executado.

Só não fui o que te pedi.

Bela e a fera

Serás um monstro

Por tudo que erraste
Por tudo que acertaste
Por tudo que amaste

Sempre serás um monstro.

Você, bela e perfeita, encontrou o caminho para destruir a Fera.

Destruir a confiança em tudo no pouco que ele tem e condenar:

Sempre serás um monstro

João do Umbu

João acreditava em fazer tudo certo. Sabia que era tosco e limitado. Mas tinha a esperteza da vida de saber que de tudo de um pouco fazia.
Mas pra sua mulher, Maria, tudo em João era torto. Se era rosa que ela queria lhe dava crisântemo. Se era licor de jenipapo era de cumbui que ele fazia. Nadica de nada que João fizesse tava certo.
A roça do Antenor era mais viçosa, dava mais milho.
A vaca do seo Noquinha paria que era uma beleza e dava mais de 10 litro de leite por dia.
Nada que Joao fizesse prestava.

Daí, João adoeceu. Daquelas maleitas que enfraquece o corpo e o esprito do home.
Mas Maria não parou um cadinho de reclamar. Tanto reclamava que nem se dava ao trabalho de ir lá ver se ele estava bem ou carecia de argo.
Claro que João, homem de não dar fastidio a ninguém, dizia não carecer de nada.
E foi de tanto reclamar que Maria esqueceu dele lá, mofinandi, afinar João não faria mais nada pra ela, agora que tava de cama.
Nessa Joao morreu, de tào definhado que tava, virou semente.
Mas Maria nem se apercebeu.
Também não percebeu que da donde o finado desapareceu brotou um pé de umbu.
E esse pé cresceu grande e forte. E na primeira frutada era tanto umbu que veio gente de todo lugar pra ver.

Foi então que Maria, dona do pé de umbu quis experimentar. Era dela o umbuzeiro mais bonito da vila. E ela que tinha que ser a primeira. Pegou um fruto verde e tascou-lhe uma beiçada.
Pela cara pareceu travar na boca. Amarrar na língua. Foi então que ela exclamou:
"Esse merda do João nem pra defunto serve pra nada."
A tar da Maria se encarregou de mandar cortar a arvore. Acabando de vez com o seo João do Umbu

Haiku

Mulher no metrô
Corre corre
Corre não
Vão chegar todos ao mesmo lugar.

Gentileza gera gentileza

Gestos pequenos, gestos gigantes.
Fones de ouvido. Chegou no guichê para recarregar o cartão do metrô:
"Carrega com 50 reais!"
A moça falou: "Bom dia!"

Avô

Às vezes, para ir da minha casa para alguns lugares, atravesso o cemitério da Consolação.
É curioso transpor este lugar potencialmente triste e assustador. Nada disso me incomoda, me assusta ou entristece.
Reconheço alguns nomes importantes nas lápides. Alvares Penteados, Malufs, Mário de Andrade e Monteiro Lobato.
Mas dois nomes me chamam a atenção. Um pela presença e outro pela ausência.
Quem poria num filho o nome do grande herói gaulês Vercingetorix? Curioso. Olho para os outros nomes no jazigo e não encontro nenhum Asterix ou Abraracurcix.
O outro nome que nunca encontrarei mas que sei que está guardado em algum lugar por lá carrega o meu sangue: Primiano Venturoli.
Quem poria o nome do primeiro dia do ano no filho?
Condenado que foi a ser jogado no jazigo emprestado da família importante de um (querido) tio meu. Condenado por não ter sido o que se esperavam que fosse.
Ele está por lá. Em algum lugar. Abraçado a algum Plínio Barreto.

Esotérico

Aquele um que eu não buscava
Veio a mim em palavras, gestos e olhares
Veio também sem saber o que acharia,

Aquele um que não busquei.
E sem buscar, nem saber,
encontrei sensações e sentimentos
Nele me encontrei
e se encontra em mim
Foi aquele único
que chegou
trazendo Sentido

Nota de um samba de pé quebrado

Você olha pra mim e diz:
" Amor, ai que saudades!!!"
E eu pergunto: "De quê?
Se só sou defeitos pra você!"

Diz que não te ouço
Mas não pensa que já cansei
De ouvir
Que sou mentiroso, farsante, um pulha?

Se a vida me fez quem sou
E amar quem eu sou você não quer
Seguimos amigos, amantes
Amados, amagoados e entristecidos.

Um dia, quem sabe reconheces os passos errados
E eu a minha maldade.

Cansei do sofrimento.

Ídolos

Tinha em si o espirito aventureiro de um Pratt e o amor pelo seu pais como um Springsteen.
Aprontou suas coisas com o que aprendeu com seus antepassados, o suficiente o que pudesse carregar em duas malas e partiu.

Trapalhão

"Sabe, moça" murmurou o garoto moreno enquanto limpava o balcão do botequim com um pano cinza e fedido - "só Deus sabe como não é fácil se chamar Zacarias. É, esse é meu nome. Igual ao do cara da televisão. Meu pai adorava o programa. Tenho um irmão Mussum e outro Didi Mocó. E minha irmã mais nova se chama Dedéia, a senhora já deve imaginar o porquê do nome. Mas pra mim sobrou o Zacarias, e por causa disso todo mundo me acha bobo, ingênuo. Sempre tem um que tenta achar em mim algo do cara."

Borracha

Apaguei todos os registros de ti, com a certeza de que não tão cedo apagaria as suas marcas em mim.

Hereditariedade

Tenho os pelos do saco ruivos
Como a barba do meu pai
E os cabelos do meu sobrinho.

Razão que se impõe

Anda, vem. Antes que seja tarde.
Antes que eu me desfaça em fígados e pâncreas. Antes que eu parta.

Sei quanto errei.
Mas ao errar acertei o caminho em sua direção.
Estou com você e sei que há algo de mim em ti.

Sei que procurava alguma razão pra se afastar mas a razão do coração se impõe.

Histórias

Uma coisa que me incomoda toda vez que termino uma história, seja ela escrita, lida ou vivida por mim, é saber se e o que ela mudou na vida dos personagens.
Nas que escrevo, eu tenho algum controle.

Nas que leio, posso imaginar, criar.
Mas são nas que vivi que a angústia vem morar.

Tenho eu o poder divino de mudar as pessoas? Tenho eu o direito a isso?
Só sei que ninguém passa pela minha vida sem deixar um rastro. Seja ele uma trilha clara e segura, seja um fio viscoso deixado atrás de uma lesma.

Queria poder dizer o mesmo de mim.

Fuga

Não adianta,
Esconder não vai te salvar,
Lençol algum a protegerá
Da minha saudade.

Com cada gota do suor do seu corpo
Matarei minha sede
Como quem bebe a última gota do cantil.

E lhe darei de beber
Do derreter da vela
Que queimará dentro de você.

Até saciada a sede da sua/minha boca
Dormiremos
Até ter o que era passado
Virar presente
Dentro do seu corpo.

Mordaça

Cala-te mas não fecha as bocas
Vou arrancar um beijo
Até surgir no teu rosto um sorriso,
Boca de gozo!

E como um palmo a medir
A cada beijo saberei o tamanho
De cada gemido calado de prazer.

Não fugirás,
Virás e virará
Até lamber o mais profundo do seu tesão.

Não permitirei palavras,
Só respiração
Pois será o único alimento que terás
Além da água que sai de mim.

Haikai

Molhadas de alegria
Saudades em forma de água
Suas bocas.

Yahtzee

No deserto da insônia
Rolo dados virtuais
Vendo passar as horas
Esperando você chegar

Cada lado de um dado
Marca dez dos minutos do tempo
Rolo um, que rola dez.
Rolo seis, que rola sessenta.
E nada de você chegar.

Neste jogo busco o sono
No barulho dos minutos
Que os dados rolando fazem.
E nada de você chegar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Enredos


Quero brasileiros novos.
Que me contem h(e)stórias.
Não suas crises existenciais.
Cansado dos pseudo-proustianos.

Quero Guimarães Nova.
Quero Neorges Amado.
Quero Machados de Atuais.

Venham contar contos e romancear novelas.

Quero Raduans Novassar.
Quero Montes e eiros Lobatos.
Quero Bens Bragas.

Preciso de enredos para minha vida.

Lezêra


50 Toms de cinza


EnRedo Social

Vazia essa moderna sensação de amizade.
Saber tudo dos seus amigo
Sem jamais voltar a vê-los.

Insomnia

Desacordo,
Sem conseguir dormir segundos
Na longa noite da minha alma.

Palavras passarinhos

Escrevo
Não releio.
Passam erros. Passarinhos?

Ser e estar

Houve um tempo em que achava que ser eu mesmo era legal;
Noutro tempo, um inferno;
Ainda em outro achava que era um estilo de vida.

Hoje sei que não sou. Estou.
Gosto de árvores, quem freqüenta este perfil já deve saber.
E gosto de madeiras.

Talvez por ter passado a vida enfronhado nos metais da empresa do meu pai.
Ou mesmo por ter tido um pai serralheiro-metalúrgico-artesão que amava árvores e... madeira.
Em casa a maioria dos móveis eram de madeira, mesmo meu pai podendo construí-los de olhos vendados em qualquer metal da face da Terra.

 

Pensamentos


Pedra rolada não move moinho.

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Dorme quem pode,
Fica acordado quem tem insônia.

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Só os vivos sobrevivem.

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Saco cheio dos preconceitos, inclusive dos meus.

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Quando fordes atravessar as vias, olhai para ambos os lados.
A saber, lado direito e lado esquerdo.

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Não julgueis para não serdes julgado.
Mas se fordes fazê-lo, lascai a lenha, descei o pau, condenai e executai de uma vez, para que não percais tempo.

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Passarinho que come pedra sonha com britadeira.

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Só hei de me livrar de tudo
Quando tudo acabar...

Flores em nós


Plantaram tantas sementes a esmo, sem saber exatamente de quais plantas eram.
Viu-se nascer trepadeiras, lianas, muitas gavinhas.
Muitos nós se formaram, mas nem todos eram benéficos e estrangularam algumas plantas, talvez por descuido dos plantadores, talvez pela empolgação de encontrar campo tão fértil.
Mas o tempo e o cuidado está fazendo com que sobreviva o que é bom, bonito e proveitoso.
Que frutos dará? Os plantadores não sabem ainda, mas já se vê flores.

Memória do desejo (trecho)


Hoje acordei sonhando o corpo da mulher que amo.
Da alteza a belezura.
Cada curva, cada sarda, cada pelo, cada monte.
Como os quero!
Como os desejo!

Morder sua nuca refletida num espelho.
Beijar sua boca e sentir que a outra sua boca já está molhada.
Agarrar cada lado do seu corpo
Deslizar a mão pelas cinturas
E me perder nos quadris.

Virar você
E me embebedar de tantos praquês
Até tirar o meuseu fôlego.
Como amo seus peitos.
Eles me fazem duro só de pensar.

E nessa dureza deixar sua mão tomar para ela o que dela sempre devia ter sido.
E ver você e sua boca agigantar o que à minutos era algo tímido e sem graça.
E você se apoderar do meu prazer.
E fazer que eu esqueça o mundo e comece a pensar em uma coisa só:
A sua bucetinha.

Molhada, sinto-a com o joelho, com a mão, com o dedão do pé.
E a vontade dela aumenta.
Querer comê-la de tudo quanto é jeito.
Papai-mamãe, de lado, deitado, de pé , sentado, de frente, por trás.
Mas não sem antes brincar com ela, com um dedo.
Dois, talvez.
Por que não três?
Sei lá, confundir-me na aritmética dos dedos para depois me tornar um dentro de você.
Começar devagar, calmo.
"Só a cabecinha!"
E com vagareza e safadagem ir aumentando a animalagem e te devorar e ouvir seus gritos e suspiros enquanto balança os quadris e aperta a mulabanda me levando a ser cruel no sexo, com aquela crueldade gostosa de quem quer ir morar dentro de você.

Virar você, colocar de quatro, sentir você colocar um dedinho

Jardim


De um jardim de Monet
Fui escolher flores,
Para embelezar minhas postagens,
Sempre tão sem luz,
Sempre sem as suas cores.
Só a descrição do seu sorriso.
Eu amo você em todos os matises de cores de Matisses, Manets e Monets.

A você que amo tanto...


Rótulos são (des)necessários?
Tem horas que sim,
Tem horas que não.
Para minha filha eles o são
E tem horas que também pro meu coração.
Mas a certeza permanente da sua presença seria muito melhor.
Consolidar o sonho de uma parceria a dois em um mesmo ambiente.
Cuidar d'ocê e ser cuidado.
Amar sendo (amanhecendo) amado.
Amadurecer as birras e manhas,
Como fruta azeda que trava na boca, mas loguinho estará doce no pé.
Colher.
Escolher a nós e ser feliz.
Parabéns por mais um dia a seu lado ainda que longe demais pro meu gosto.
Amo você.

Novelo


Existe um fio que perpassa o mundo, como se o mundo fosse um novelo.
Tem horas que esse fio se afila até ficar como uma linha quase imaginária. É nessas horas que faltam o amor, o carinho, a compaixão.
Nessas horas o fio se embaraça e tudo se complica.
Noutras horas, esse fio de doura, se fortalece, fica grosso como corda. É quando encontra tudo aquilo e se junta a outros fios.
O nome desse fio?
É esperança.
E na maioria das vezes ele cresce forte do seu lado.

Passarim


Se me deixo dominar pelas suas vontades
É pelo amor.
Se me deixo me irritar pelas suas implicâncias
É pelo amor.
Se me deixo magoar pelas suas verdades
É pelo amor.

Mas se distancio
Mas se calo na dor
Mas se seguro o choro
Mas se guardo as minhas dores.

Também são por amor,
Mas é por um amor a mim
E por um amor num futuro onde você me passará respeitará.

Ao seu lado, sinto completude.
Eu do seu lado, sonho com felicidade.
Sou homem que, sim, preciso de mulher.
Mulher, rosa sardenta, sonhadora realista, mãe e mulher amorosa que vive hoje a loucura de querer se dividir em filho e um cara que ela não assume.
Forte fisicamente, nénem nos momentos de solidão mental em que busca sozinha achar soluções, sem querer apelar pro cara, pra família ou mesmo sem saber chamar os amigos.

É essa mulher que em semanas outonais de maio fiz e refiz escolhas de amar.

Simples? Nem ela, nem eu.

Quero-a. Como querê-la? Fácil?

Como tê-la? Difácil.

Parece passarinho assanhado do Ibirapuera que come na mão se esbalda, mas se recusa a estar do lado sempre, mas se recusa sair de perto.

Cadê teu penacho?

Tenho cá quilos de pão pra te carinhar e sei que tem biquinhos pra me beijar.

Ama-me.

Larga essa ira.

Estou lutando contra ela e a mágoa em mim. Faz também. Por favor, passarim.

Amo-lhe.

Amém.

Receita de gigante


É você quem me faz grande.
É a sua grandeza que agiganta.
Não por uma questão de perspectiva
Mas por uma questão de fermento.

Seu amor, sua confiança, sua crença em mim, sua lealdade, seu(s) carinho(s), sua pele, seu sorriso.

Gastaria o dedo a n(u/o)me(r)ar quantos ingredientes seus fazem de mim um gigante.

Mendicagem


Enquanto eu lhe pedia um beijo, recebia um passa-fora
Quando lhe pedia um abraço, um safanão.
E quando queria intimidade ela se enfiou no celular ao invés de falar pessoalmente para ele.

Ela não percebe que faz mal aos outros mesmo não querendo.

E é incapaz de tocar a dor da pessoa que sofre para acalmá-la.

Ela foge, vira, rejeita.

Ela esquece de tudo que ele também passa.
Ela não quer falar de doenças.
Ela não quer estar ao meu lado nas horas tristes.

E implorar para que me atenda um telefone, é mendigar.

O tempo se encarregará de mostrar o que aconteceu.

Sim.

Ele falou de negócios, pois era mais uma maneira de lembrar do vínculo que eles tinham.
Já que ela jamais reconheceu o amor dele.

Dói, doerá mas vai passar.

Por que tanto...


Como
De repente
Tanto ódio brotou
Onde outro dia olhávamos um nos olhos dos outros
Dizendo o quanto nos amávamos enquanto eu estocava o que tornou gigante?

Sexo e amor,
Transmutou em ódio e gritos.
Dores antigas retornam
Novas se somam.

E eu continuo a sonhar com a paz que é dormir do seu lado
Quando me sinto todo seu
Quando você me toma por inteiro
No seu corpo,
No seu coração.

Capital da solidão


“Outra vez sem você
Outra vez sem amor...”
Elizeth canta no celular

E o caminho do rio podre
Nunca foi tão feio quanto agora.

Sem motivo para atravessar
Sem motivo para metrô
A casa vazia sem ninguém ecoa o coração que chora
E a máquina fotográfica espera a hora de um dia te ver.

Solidão, no caminho dos jesuítas até a estrada velha de Sorocaba.
Não acaba então a dor da distância de você.

Bateu


Bateu aquela saudade
Que faz necessário seu sorriso,
Que faz essencial seu beijo,
Que faz imprescindível a sua mão.

Pra amainar a tristeza,
Pra acalmar a guerra,
Pra me fazer sorrir.

Videscaminhos

Verificar se as janelas estão trancadas.
Desligar o registro de água e gás.
Abaixar os disjuntores.
Trancar as portas.
Pegar a mochila,

E sair...

Pra um dia...quem sabe ou nunca mais.,,
voltar


Vida, valeu.

Escritos antigos e (in)completos XXX

Descobri hoje que a criatividade embotada em mim está me fazendo muito mal. Tenho que achar caminhos para extravasar essa coisa represada em mim há anos.
Ou não terei paz jamais.
Agora só falta descobrir como...

Tenho a maldição dos que nunca esquecem.

Pink, blue and black. Even the bright side depends on of the dark side.

Tangerine makes marmalade skies.



09/07/11

A noite e o menino

Quando o sol já se escondia no horizonte a noite o chamou baixinho:
"Acorda, Rapaz, que pela manhã você não é mais menino e precisa encarar a vida."
Ele resmungou e pediu mais um minuto, mas já era tarde, o menino tinha ido embora pra dar lugar ao adulto que tinha barba pra fazer.
Então deu um grande beijo na noite, agradeceu por ela existir e disse:
"Até mais."
A noite disse: "Até logo. Agora vou correndo que tem um menino na Ilha da Páscoa me chamando. Fica em paz!"
E ele virou pra noite e pediu que ela o protegesse. E ela respondeu:
"Dorme em paz, menino, que estarei aqui do seu lado até o dia amanhecer."
Ele sorriu, fechou os olhos e dormiu.

Boa noite!
10/07/11

Haiku

Bananeira declamou o Sutra do Coração acreditando que isso traria paz e concentração.
Mas nem tudo na vida dele era mais calma. É como se a cada dia uma hiroshima explodisse em sua mente.

Suspirou e declamou:

"Sobre o Ipê,
Amarelo e marrom
Pula, galho, galho, pula".


12/07/2011



O cachecol de Teseu

Em algum lugar do labirinto Teseu perdeu o cachecol que desfiava pra guiá-lo. Em cada centímetro de fio havia quilômetros de significados e eram eles que o prendiam ao caminho. Foi então que percebeu que não era prisioneiro das paredes mas de distâncias de lembranças.


E o frio na alma o acalentou.


12/07/2011


O gato e a Paz

Todo o dia a mãe de Neko preparava sua lancheira.  Dois sanduíches de grilo, sopa de rato, um oniguiri, suco de pardal e moti. Neko estava cansado de sempre o mesmo bentô.
Até que um dia deram Paz para ele experimentar. Se refastelou, comeu tanto que até passou mal.

Nunca tinha comido uma pomba branca.

12/07/2011

Versículo

Simão perguntou para Yeshua, durante a caminhada na praia perto do barco:
"Quem autorizou as pessoas a nos fazer sentir culpados por coisas que não podemos fazer?"
Yeshua calmamente respondeu: "Pergunte ao nosso pai!"

13/07/11

Wilfredo, o sapo

Wilfredo era um sapo sofregão.
Toda noite coachava o mesmo refrão.
Sou eu,
Ou não?
Sou eu,
Ou não?

Morreu bulímico, Wilfredo, o reclamão.

13/07/11

Os óculos de Jung


Jung usava os óculos na testa pois a si não bastava enxergar com os olhos da face. Tinha que ver com os olhos da mente.

13/07/11

Mordeu

Mordeu meu medo a tartaruga.
Ops, o sono...
Morreu meu dedo a tartaruga
Xiiiii, de novo.
Mordeu meu dedo a cacatua.
Ai, jesus... Que só erro.
Morreu meu medo da cacatua.
Mordeu meu dedo a tartaruga.
Morreu o meu dedo de cacatua.

Sei lá...

Algo morreu de medo mordendo o dedo de tartaruga da cacatua.

É isso..,



15/07/11

Gato bobo


Gato bobo, gato bobo,
Roda roda sem parar,
Ainda cairá no bolo,
Que procura sem cessar.

Queria ser um gato,
Pra em todo canto dormir,
De gordo e de fato
Gato bobo a sorrir.

Cansei de perseguir,
Gato bobo a sorrir,
Mas tenho que aguentar,
Esse bobo a miar.

Olhe bem pra ele,
Todo bobo, todo azul,
Sorri de tão feliz,
Come peixe pelo nariz.

Vai-te embora,
Bobo gato,
Quero-te bem longe de mim.
Não quero você sorrindo assim assim.

O novelo se desfia,
Lá longe o gato mia,
Do que o gato ria?
Só pode ser de mim.

Estou só sem o bobo,
Sinto saudade do gato.
Estou sozinho, abandonado.
Com um tremenda cara de pato.

Bastardo

     Naquele dia teve a certeza de não haver nascido.
     Ouvia os gritos daquela senhora e tentava a todo custo ter compaixão e compreender o que se passava na cabeça dela.
     Amava-a como uma mãe. De fato, acreditava ele que assim o era. E talvez o fosse. Eram muito parecidos.

     Mas a idade os tornou tristes e amargos e cada refeição os separava. Nelas as palavras não eram ditas, mas gritadas.
     E depois restava a dor e a tristeza.
     Ele tinha certeza do amor por aquela mulher. Das suas angústias em fazer o possível para tornar a sua vida melhor e sempre receber o pior dela nessas horas.
     Horas de sono perdidas como um dia ela perdeu para ele. Horas que a toda hora o levava a ver se ao dormir estava bem.
     Horas que o levava a cada instante checar se comeu, para em ato contínuo ouvir gritos que aquilo não era da conta dela.

    Tinha quem dissesse que isso era da idade e que tendia a piorar. E ele temia ser ele o fator de piora.
    Nunca quisera fazer valer nela as dores que sempre ela o inflingia.
    Mas era intenso e reativo. Não suportava ver as coisas erradas, coisas que eram erradas para ele.
    Como também não suportava ser maltratado. Frustava-o. E ele sabia que era difícil.

   Mas o que mais o incomodava era o medo de perdê-la. Era a única mãe que conhecera. A mãe que o colocava no colo, fazia cafuné quando as dores de cabeça lancinantes dominavam. A mãe que deixava o prato pronto quando chegava da escola, ou que fazia a comida especial quando chegava de viagem.

   Sempre fora o maior foco de preocupação da casa. O garoto problema, o doente, o louco, o mimado. Mas também o filho que sempre procurava, ligava, tentava cuidar a distância.
   
    Pedem-lho que compreenda. Mas muitas vezes, e na maioria delas, a dor é demais. A dor de ser maltratado. A dor de vê-la sofrendo. A dor de sofrer e não poder mais recorrer.

    Foi assim aquele dia. E nele teve certeza que não havia nascido.