terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Paca Tatu...

Tomo café pensando na rapidez com que bebo o líquido preto escaldante e não queimo a boca. Daí me recordo que sempre me espantava que meu pai fazia o mesmo. E eu sempre me perguntava como fazia, enquanto ele trocava o meu café com leite de copos buscando esfriar. 

Como uma coisa leva a outra, passa a bela (pero no mucho) moça na frente do boteco e todos os pescoços quebram por causa dela. 

Penso no meu pai novamente me ensinando daonde vinha a palavra paquerar. Que paquerar é o ato de caçar pacas. Sim o roedor. (Nota: esse verbo só existe em luso-tupi). 

O paqueiro (ou paquerador) buscava durante o dia a trilha que o animal deixava quando desentocava. Caçá-lo consistia em ficar parado com um saco na trilha enquanto outros saiam pelo mato espantando o bicho. Dizia meu pai que a paca sempre voltava pelo mesmo caminho e que era só esperar que ela entrava no saco desapercebido. Num entardecer dava pra pegar umas quatro se Curupira não atrapalhasse. Era a hora do retorno pra toca. Digo entardecer, pois as onças saem para "paquerar" durante a noite. E não é uma boa para uma paca dar bobeira por aí de noite. 

Acabo de mastigar meu pão de goma que de queijo não tinha nada, jogo o pedaço final no lixo. Acabo com o segundo copo de café pelando e parto para a faixa de insegurança na frente do meu prédio. Na cabeça, além da saudade do meu velho, uma frase chiclete insiste em repetir: paca, tatu, cotia, não. 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Missing people

Hoje senti saudades
Daqueles que partiram
Pra nunca mais voltar. 

Pai, avó, amigos, 
Primos e professores. 

Hoje sinto saudades 
Do abraço de nunca mais 
Do beijo de jeito nenhum
Da mão que inexiste. 

Homens, mulheres,
Lésbicas ou gays.
Ruivos, negros ou índios.

Saudades deles todos. 
Que transformaram minha vida 
E não estão aqui pra destransforma-la.


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Devaneios humanísticos (ou Donne pessimista da Moóca)

Persigo com todas as forças o homem renascentista em mim. 
O humanista, o amante da humanidade. O sobre-desumano. 
Não um Leonardo
Nunca Michelângelo
Sempre um Rabelais gigante e torto
Pantagruélico para não fugir do lugar comum. 
Um delirante Cervantes. 
Uma alma que vá de Erasmo a Maquiavel, permeando um Bacon e nunca resvalando num Montaigne. 

Mas pateticamente constato que sou um brasileiro barroco-macunaímico. 
Uma triste figura dos tempos atuais que suga as informações e jamais vai além de moinhos de vento. 

***

E ainda que certo de que todas as políticas e lideranças passarão. 
Que ideologias, religiões, times de futebol morrerão. 
Que os jovens idealistas sempre se tornarão velhos arrivistas. 
Que sonhos de salvação viram delírios messiânicos. 
Que no final o interesse de poucos sempre prevalecerá aos da maioria. 

Permaneço humanista por acreditar no ser humano que se enriquece com a sabedoria de um qualquer e se empobrece com a morte de qualquer um.

Mas uma coisa é fato, todas espécies morrerão.