sábado, 20 de dezembro de 2014

Interminável

Tic toc 
Um dia se passou desde ontem
Tic toc 
E ainda ouço intermitente
Tic toc 
O relógio do coração quebrado. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

21 anos

Passaram-se 21 anos que ele dormiu para não acordar mais. 

Talvez algumas pessoas não saibam como é olhar-se no espelho e ver a imagem de alguém que você tanto amou refletida. O nariz torto, orelhas de abano, um sorriso meio tímido, sobrancelhas grossas, fios ruivos na barba. 

Em um domingo desses, ele deu o primeiro passo para descansar. Aos que ficaram não é permitido descansar sua memória. 

Ele deixou marcas na cidade, eu sempre digo. Mas essas poderão deixar de existir um dia. As que carrego no rosto, as que a genética me deu. Essas vão demorar e a cada manhã que passará hei de encontrá-lo refletido no espelho. 

Beijos, pai. Saudades. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

275 anos

Da primeira vez, logo que ao mundo vim.
Mal (havia) acabado de nascer. 
Ao meu lado, nem anjo ou querubim
Nem mesmo um demônio ousou crescer. 

Na segunda, me encontrei na selva escura
Onde começava a via da minha vida. 
Esta se achou no ardor perdida
E se queimou de dor ardida.

Na terceira,
O que foi perdido
E o que foi achado
Me des()encontrou traído
Pelo amor travado.

Na quarta,
para(noias me assolaram.
com grossos coturnos 46 de bico largo
Mas foi pouco e não me massacraram.

Quantas vezes mais virão
Não me cabe saber. 
(de virada ou de viés)
Só resta a certeza que sempre vou sobreviver.

Se isso é bom ou ruim
Não sei lhes dizer
E se soubesse 
Nada contava. 

Trabalhância

Um dia me gritaram
Que dez não faz um ofício.
Quase mandei fazer o zero
Com o orifício.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Liberdade

Saboreou o oyako donburi tal qual um condenado saboreava seu último prato antes da execução. 
Afogou-se em piedade dentro do chauan de missoshiro, enquanto lia a ir)realidade do mundo em um gibi do Grant Morrison. 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Sapiência

Eu posso não saber de tudo,
Mas definitivamente vocês não sabem de nada. 

Um café, pela manhã

Amanhece no Bixiga. 
Um rapaz, de terno e gravata, esconde-se nas escadarias pra fumar um baseado. 
Minha presença o assusta. 
Mas ao senti-la segura,
Segura o cigarro e o acende. 
Traga. Traz. 
Devorando-o com o mesmo prazer
Que bebo meu primeiro café pela manhã. 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Intolerância

Talvez eu consiga tolerar a estupidez, mas, com certeza, não consigo suportar a ignorância. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

À Última Sessão

Espero que com ela
     voltem os amigos. 
     os enjôos terminem. 
     a doença se afaste. 
E, sobretudo,
       esteja curado. 

Amém. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Gravidez

Esta noite sonhei-te grávida
Grávida de um amor tão grande que por mais que tentasses, não conseguiria esconder.
Percebi então que o sonho era meu.
Sentei na beirada da cama e chorei.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A conta do amor

Ah! Vocês versados no amor.
Digam-me, para acalmar minha alma. 
Quantos elogios é preciso fazer a uma mulher para que ela acredite?
Quantas bonitezas apontar sem que ela se enjoe?
Quantas vezes se diz Eu te amo para que ela se convença e abra o coração?

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Passiflora

Uma constelação de flores
Em cada brilho do seu sorriso
Em cada curva do seu corpo,

Arrebatando coração e pensamentos.
Expulsando tristeza e solidão.
Trazendo no ar, sons de amor que nunca ouvi,
Acompanhando como pássaros, beijos em um flor-estrela.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Em um velho casarão na avenida Paulista

ter a responsabilidade de tantas perguntas sem respostas.

procurá-las, 
procura 
e pra curá-las 

se achar (persona) sabedora 
tanto, tanto e tantum
e ser,ao mesmo tempo, 
nada.

necessariamente ser mais
ou ser um to(d/l)o para colher
os pedaços do que chamo 
alma.

(ver a primeira lasca doer de ter nascido
sabendo que a cada minuto 
a pedra da vida nos leva)

odiar ser e ver-se nada 
                             (pára si)
          para os outros.
olhando um deseborrão de carvão preto molhado e escorrido
no espelho d'alma deslavadamente suja

e sonhar, e sonhar e sonha...
em terminar o texto sem sequer pergunta
pois as perguntas não estão nas palavras escritas
mas nas escondidas.

E A RESPOSTA?

essa, talvez, seja A PERGUNTA.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pesadelo

O que farei 
quando,
no meio da noite,
ele chegar
e não haverá sua mão 
para segurar?

Tique taque

Esquanto esperava ser chamado, Vladimir tentava fazer as contas de quantas vezes já havia passado em hospital nos últimos seis anos. Levando em consideração somente as vezes que tinha ido por razão própria. Visita a amigos e parentes não entrava na conta.

Achou que 372 um número razoável, mas certamente era mais.

No primeiro ano, com os exames, o tratamento e emergências umas 123 vezes. No segundo diminuiu para 80, estava melhor.

No terceiro a recaída,132. Lembrava especialmente desse número pelas anotações no registro do hospital. Depois de tantas idas, havia criado intimidade e saliência com as moças do atendimento e da enfermaria. Até Francisca, a chefe, a chata, a brava, já o tratava com carinho. Ele tinha ajudado a conseguir alguns livros escolares pros filhos dela. Isso lhe garantiu a liberdade de fuçar nos arquivos para fazer o levantamento.

O quarto e o quinto ano foram mais leves, só 80 vezes nos dois anos. Rotina, exames, visitas aos medicos ou alguma terapia. Nessas ocasiões aproveitava para adoçar com bombons as moças que tanto lhe trataram bem.

Mas esse sexto ano havia começado estranho. Muita gente nova, os médicos, os mesmos, mas mais ansiosos. Exames novos, resultados mais rápidos e tratamento mais pesado. No compto já foram 9 vezes. Isso assustava Vladimir.

Uma coisa o acalentava, a presença sorridente da severa Francisca. Quando, depois de quase 8 meses sem aparecer a viu, o rosto negro sorriu os dentes amarelados de tanto fumar. Vladimir sempre brincava que aquilo dava câncer e ela com sua peculiar cara de brava respondia, "Então trabalho no lugar certo".

Abraçou-o como só os grandes de coração e brutos de gestos sabiam abraçar e disse no seu ouvido que tinha rezado muito para não ver vê-lo por ali.

E ali ele estava. Tremendo de medo e cheio de esperança que fossem as últimas.

Ah! Uma outra coisa tão presente quanto Francisca era o relógio na parede cinza que Vladimir olhava entre uma página de livro e outra, esperando passar o tempo ou esperando sua hora chegar. Pelo bem ou pelo mal.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Extremos

O que é essa coisa delicada
Que começa com um choro e termina com um suspiro?
Que no meio tem fome, tem sono, tem dor?
Que nos permite amar, sofrer e odiar?
Que nos faz chorar e rir sem parar?
Que nos traz amigos, irmãos, pai e mãe, filhos e amores?
E que os leva embora
Fugindo, desaparecendo, nos abandonando ou morrendo?

O que é essa linha fina que tem de um lado uma luz imensa
Da outra uma escuridão infinita?
Que nos amedontra, que nos faz sofrer?
Que nos faz gozar e enlouquecer de amor?

O que é que liga o nascimento à morte?

Qual o nome disso que perdemos aos poucos a cada vez que o tempo aumenta?
Ou que perderemos tão rápido quanto umas férias de verão?
E igual a esta deve ter sol, praia, sorvete, areia, água e muita paz.

O nome dela é vida,
e eu tenho muito medo de perdê-la .




terça-feira, 16 de setembro de 2014

Antônimos

Saúde/Doença
Vida/Morte
Alívio/Dor
Alegria/Tristeza


Mas qual é o antônimo da solidão?

Dos mistérios da doença

A estrada da doença é estreita e só cabe uma pessoa.
Não há quem possa fazer esse caminho com a gente.
Nele, quando muito, só há espaço para os que nos dão de beber e comer
Na forma de carinho e atenção.
Mas encontrar-se frágil
Por solidão.
É assim que se sente o doente. 
Estar doente é estar sozinho com a sua dor.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Fulô do ipê.

Primeiro
Vem o rosim,
Seguido de perto do roxim.
Em seguida estoura o amarelim. 
Para abafar a doceza do branquim. 

Pr'anunciá que a primavera tá chegando 
E que vem aí bons tempos. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

do direito de ser quem se é

Recuperar o falo, sem querer ser rei.
E ainda permitir-se
            sentir,
            rir,
            gritar,
            comandar,
            chorar.

Tragar o charuto,
Sem enfiá-lo entre os olhos de ninguém.
E soprar a fumaça pelos (A/a)res,
E ainda tossir, engasgar-se, sufocar.

Ser Zeus e destruir com raios os inimigos,
                                  e ainda ser Adonis.
Ser Shiva e com um olho destruir um mundo,
                                 ser purusha e ainda ser prakriti.
Ser Afonjá e fazer justiça com o oxê
                                 e permitir-se ser Aganju também.

Sofrer pelas pedras que domina,
Rolá-las até topo do monte e vê-las cairem,
                             suportá-la nas costas,
                                                e ter o figado destroçado por abutres
                                                                    quando acorrentado sobre elas.

Ser homem e ser humano,
tomar posse da minha imortalidade
sem ter o corpo ardido pelo veneno da túnica inverdadeira de Dejanira.

domingo, 3 de agosto de 2014

Novamente

Eis que bate na porta
Como a porta de Ludwig. 
Eis que pousa sobre meus umbrais 
Como nos de Poe. 

Mas eu te recuso. 
Não serei seu refém. 
Chegarei aos 50, 60, 70, 275. 

Nunca mais...
Corvo maldito. 
Adeus. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

***

Veio em uma noite
Em um vermelho e um sorriso.
Não garantiu nada
Só que se não fosse naquela noite
Não seria mais.

E a cada detalhe,
Em cada entalhe,
De cada curva.
Rendi-me a sua beleza.

Quero ela maravilhosa
Vestida de sorriso e rosa
E hei de me perder em cada ponto celestial do seu corpo
Na busca de ser(mos) felizes.




Saber-se nos mistérios da dor

Saber-se nos mistérios da dor
Não saber mais viver
O que era certo consolidado
Se transforma em liquidez.

Conviver com desafeto
Não curvar-se à dor
E esperar a felicidade
Nos momentos de solidão.

Dureza, propriedade da matéria
Transforma
(Transtorna?)
Um sonhar eterno em um amor interrompido

Por causa da dor
Por causa da dureza
Por causa de não entender mais nada,
Da noite...
Pro dia.

domingo, 20 de julho de 2014

Starwoman

Perguntou pra ele se acreditava se havia vida em outros planetas.
Ele olhou pra ela, sorriu e disse:
"Acredito, jamais nas minhas andanças encontrei mulher tão bonita quanto você. Certamente você não é do nosso planeta."

domingo, 13 de julho de 2014

Caminhos

Não há o que se assustar. 
Só é mais um jeito de gostar. 
Atrapalhado e companheiro. 
Inseguro e verdadeiro. 

E se nessa confusão
Mergulhado em sentimentos 
Em profusão 
O amor chegar. 
Não cegará. 

É algo de sonhar,
Muito de querer,
Ser feliz é um projeto a se buscar
Que é melhor junto que sozinho. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

RK

Olhei para ela, saudoso e pensativo. 
Ela me pergunta dos meus planos malignos. Eu lhe garanto que não há malignidade no meu coração para ela. 
Digo-lhe
"Minhas piores intenções...
São as melhores possíveis."
E complemento:
"E as melhores? Essas são piores  ainda."

Turning points

A vida é repleta deles. Alguns pequenos que chegam a passar despercebido, outros capazes de mudar o ruma da história como um Superman voltando no tempo para impedir a morte de Lois Lane.

Existem momentos na vida que nos encontramos em encruzilhadas que nos fazem mudar rumos da vida.

Hoje, há seis anos tive uma notícia que mudaria o rumo de toda a minha vida.

Sentado na sala da casa de um grande amigo de infância, em um almoço, recebi a notícia de que não teria mais que um ano de vida se não começasse o tratamento logo. Algo carcomia-me por dentro e estava cada vez mais faminto. Tínhamos que ter a coragem de destruir esse alien. Sim, no plural, nós íamos lutar.

O monstro foi dominado. Não sem luta, não sem briga. Mas o que era um ano já dura seis.

A batalha está vencida. A luta, não sei.

Mas o que importa isso?

A vida tá aí pra ser gasta, dure ela um minuto, um ano ou uma década.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

segunda-feira, 9 de junho de 2014

L'étoile

Luz
    Brilha
Sem precisar de
Luz

Umbrilhoimensoesquenta
corpalma

Com a força de um sorriso
Que sem precisar
        Briluz. 

sábado, 7 de junho de 2014

Segunda época.

Não quero provar meu amor!!!
Basta! Chega!!!
Quero perder meu tempo a provar do amor.

Como provar o amor
Se o sentimento está invisível dentro de nós?
Como provar o amor
Quando qualquer palavra não basta?
Como provar o amor
Se as ações são por vezes contraditórias?

Por isso grito:
QUERO O MEU QUINHÃO DO AMOR!!!

Cuore

Paixão é receber todo um novo coração enorme
Amar é lapidar-se para que ele caiba. 

Fim

O Sol do dia
Lembra o dia que partiu. 
Você sempre dizia:
"Que lindo dia para se ir. "

terça-feira, 3 de junho de 2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Talvez

não não não não não não não
 não não não não não não não
  não não não SIM não não não 
 não não não não não não não
não não não não não não não

sábado, 31 de maio de 2014

Nobre

"O trabalho enobrece o homem"
Max Weber


Exigiu títulos nobiliárquicos. 

Procurou a coroa e as jóias. 
Exigiu obediência e vassalagem. 
Por fim cortou os pulsos para se certificar que o sangue que corria era azul. 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Profecia

Andava pela rua, aflito e ansioso. Tentando chegar não sabendo aonde. Ou não chegando a tentar. Beirava o pânico quando uma mão grande e pesada se colocou no meu ombro e uma voz murmurou:

"Filho!!!"

Quando olhei para a mão de dedos desossados e algumas poucas unhas quebradas. Quando esse olhar acompanhou o braço descarnado até alcançar o ombro e o pescoço de onde se viam alguns ossos salientes. 

Quando enxerguei as órbitas amendoadas e profundas, reconheci meu pai em um arremedo de defunto. Seu cabelo, ou o que havia dele, se misturava com a barba em tons de cinza, branco e vermelho. 

Não vestia roupas, nem tampouco tinha muita carne e pele para vestir. 

Em um instante de reconhecimento, agarrou-me fortemente pelos braços e com um olhar de cortar minhas pálpebras deixou sair mais uma vez a voz murmurante:

"Não deixe passar esta vez, filho!
É a sua última chance!"

As mãos enormes, que um dia me seguraram no colo, e o seu arremedo de corpo se desfizeram no exato momento em que acordei suado, mijado e cagado. 

terça-feira, 13 de maio de 2014

domingo, 4 de maio de 2014

mo(me)n(do)nto

existe 
u(m)omento
qua(se)gundo
onde
h)es)xc(itação
se (con)fundem. 

É certo já estar apaixonando. 

----------------

EXISTE 
UM MOMENTO
QUASE UM SEGUNDO
ONDE A HESITAÇÃO SE CONFUNDE COM A EXCITAÇÃO.  

É CERTO JÁ ESTAR SE APAIXONANDO. 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Delicadeza

olhar-sorriso
tímido avassalador
brancura da pele contrasta
alça da blusa preta
marcava curvas
salientes na saia vermelha.

brotar desejo de beijos
impar no par de lábios
do sorriso do olhar.

sábado, 26 de abril de 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Geomancia

Desce estelar pelo corpo. 
Uma a uma marca-se um ponto.
De dois em dois pontos traço uma reta
De duas em duas retas, planos de conquista. 
Tesão cartográfico escrito em pele. 

Começa em um sorriso 
Escorregando pelas bochechas 
Do pescoço encontra montes e um vale. 

Para confundir os meandros das suas curvas até se afogarem no sombreado redemoinho do seu sexo.  

Belezura

Era de uma falsa modéstia mastodôntica. Tinha pra si que ninguém era mais tímido que ela. Fechava-se em seu mundo-casa e nele, sozinha, era a melhor. 
Mas um dia abriu as janelas que tantos insistiam em bater. A luz a cegou e doeu na sua alma. Mas aos poucos conseguiu ouvir o que muitos já mostraram. 
Era linda. 

terça-feira, 8 de abril de 2014

Graduação

Que se dê
                grau às coisas,
tudo bem!

Mas que
       não desça 
                    de/graus
                         o nosso amor!!!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Auto de fé

Em pouco tempo, por paixão ou por carência, permitimos pessoas entrarem na nossa vida. Elas trazem coisa boas e ruins. Você as aceita ou não. 

Amar começa nesse momento. No momento da escolha, além do pesar o bom e o mal. Além do projetar do que pode acontecer com base nas experiências que tivemos. 

É permitir-se sonho, é tentar aceitar o diferente (tão igual da gente) no outro. É querer dividir somando. É buscar a completude nas semelhanças e o adendo nas diferenças. É um exercício de querer e ser querido, de não descartar o ruim do outro e valorar o bom no outro. 

O momento da descoberta do amor é divino e assustador. É assombro e maravilha.  

Este momento sublime e difícil que faz com que tomemos decisões para toda uma vida. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

descarte

um dia amor da vida
outro odio mortal

um dia não vive sem o outro
outro não quer te ver nunca mais

somos seres como seringas descartáveis repletos de resquícios de drogas.
usadas, reaproveitadas, até quando menos não convier, lixo... sarjeta.

afastar o bem amado na necessidade (de um ou do outro)
tornam-se fúteis companhias piores que bichons frisés que abanam rabos e dependem da gente pra comer.

amar é não virar as costas nas adversidades
e acompanhar é estar em companhia de...

por isso digo que hoje somos tão dispensáveis quanto o papel higiênico que usamos para limpar o nariz.
e ainda somos cobrados a estar do lado quando precisa...

"Alfredo, cadê o neve?"

E uma hora, Alfredo cansa de ser serviçal  e quererá ser servido.

Num bar

barulho, bebida, conversas e histórias
o que realmente queria era não escutar palavra. queria morder lábios a cada uma que a boca vermelha expirava.

barulho, bebidas, conversas e histórias
não conseguia simplesmente olhar, mas só ver como quem famérico roubava um prato de um corpo inteiro.
um vestido, não lembrava a cor, mas cada flor caía bem, preferível se fossem só coladas no corpo nu. no decote alimento da fome de lingeries, peles, sardas, manchas, bicos, bocas e pelos.

barulho, bebidas, conversas e histórias
ainda que muitas palavras, sua mente nos olhos fugitivos. olhar que pedia olhar e queria corpo.

barulho, bebidas, conversas e histórias
querendo escapar daquilo para onde não saber quando.

barulho, bebida, conversa e histórias
na audácia do roubo, um não, que devesse ser jamais.

na rua, no metrô pensamentos
barulhos, bebidas, conversas, cheiros, histórias, desejos
e nada além.



Pleura

A semiplenos pulmões praguejou:

"DEMOPNEUMOMNEMONÍ(A)CA"

do Peso
do Peito
da Peste
roda da lembrança




De 0 a 10

Enovelar-se no amor
Tão pouco tempo criar
       Saudades necessárias
       Fantasias futuras
       Perdências presentes. 

Um beijo a dez é pouco. 
Dez poucos beijos são nada. 

E ver dedujuntinho num clicar de unhas à frentedumsorriso é sonhar. 

Você. 

sexta-feira, 28 de março de 2014

virose

pode 
          nanoscópica estrutura 
          nãoviva (é/será/ounão)
destruir
       carreira
    amor
       sonho
           e paz 
         em um homem. 

quinta-feira, 20 de março de 2014

Mock poetry

Fui fruto do delírio 
Quisera do desejo. 
Saber da flor do lírio
Quem dera um beijo. 

Capricho do tédio
Sempre um ensejo
Saber-se remédio. 
Rimar-se com queijo. 

Da vida pobreza, 
Divididido ao meio.  
Dádiva de princesa. 

Poesia besta,
Emoção que represa 
Que um falso soneto atesta. 

Sem som assinado. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

sábado, 15 de março de 2014

Eficiência

Atendia com uma rispidez que conferia a ela uma impressão de eficiência. 
Mas só a ela própria. 
Para os demais, era só mais uma balconista estúpida e grosseira. 

Carícias

A simplicidade dela.
A complexidade dele.
(A)careciam de legendas.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Sobre Hilda e o amor...

Ele:
Que lindo...
de chorar...
A Hilda é sublime...
e você, até nisso é perfeita...
em achar pra mim a poesia exata.
mas não para acalmar meu coração...
Mas para lembrá-lo que ainda existe.
até nisso é meu melhor espelho...
e eu te amo por isso.

Ele citando Hilda Hist que ela citou:
<<< Por que recusas amor e permanência?

Ela citando Hilda no poema que citou pra ele:
<<< E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Ele se citando, repetidamente:
<<e eu te amo por isso.

Ele citando o próprio coração:
como eu poderia amar outra senão tu
como poderia sonhar com outra paz senão do teu lado
nos distanciamos para nos encontrar onde as paralelas se curvam
e se, se curvam,
Se curvam para o (nosso?) amor...

quinta-feira, 6 de março de 2014

1

1a palavra não dita
1  telefonema não retornado
1  gesto não feito
1  olhar rejeitado
1a mão negada
1  carinho desprezado
1  momento esquecido
1  beijo não dado

um amor
              perdido

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Coeur

          O que 
              querum 
    corpo quer?

 Ocorpo 
         pouco 
               quer. 

       Amorquer
        Sexoquer
      Comerquer
    Alegriagozorefastelo?
                              também. 

                que 
                quer/o
                corpo?

    Ocorpoquer
              oque 
         qualquer 
outro
                 é:

            Um sagrado coração. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Saudade rosa

Transbordapele.
saudadecor de leite)rosa 
Sobrano coração. 

Um esse sobejar damor 
Talvez (tanto) tenha 
Que tenha afogadamor. 

Hoje dedocarne procura planta
Espinho de outra hora. 
Se()quer encontra(r) curvas(?)
Era me perder adormecendo

E não só a rosa
(Todas as flores tem seu nome)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Barulho do metrô

"Alô. Gostaria de falar com a Natália!"
Barulho do metrô. 
"Aqui não tem ninguém com este nome" - falo com a minha voz grave. 
Barulho do metrô. 
"Por favor, a Natália!!" 
Barulho do metrô. 
"Já disse que não tem nenhuma Natália!!" 
Barulho do metrô. 
"É a Natália que tá falando?" 
Barulho do metrô. 
Penso por um segundo. 
Barulho do metrô. 
"Acho que você está equivocada. Aqui é um homem que está fal... -barulho do metrô - Natália tudo bem?"
Solto a voz como quem abre as profundezas do Hades e falo:
"MINHA FILHA, NÃO TEM NENHUMA NATÁLIA AQUI!!!"
"desculpefoiengano"
Barulho do metrô. 
Barulho do metrô. 
Barulho do metrô. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Salmo

Nada temerei enquanto estiveres comigo, pois é teu o meu caminho.
Tua mão me apazigua e me conduz. 
És meu alento, no momento mais escuro. 
És a única verdade, na falta de toda luz. 
Tua mão me guia e torna tudo real. 

Como um cordeiro me perco nos pastos. 
Sem condução, sou navio sem rumo, navilouca da sensatez. 
Tua mão no leme me ordena e me faz seguir. 

Entrego-me a ti. 
Im-penitente e submisso. 
Estou na palma, na tua mão. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Encontro

perseguiram-se com os olhos
como quem caçava desejos
perguntou:
                 - é você?
respondeu:
                 - devo ser!

E o silêncio durou o tempo de um beijo. 

Rolo

aparada de papel
  parada de papel
    arada de papel
      rada de papel
       ada do papel
          dado papel
           a de pApel
              de papel
                epa pel
                   papel...ACABOU

Minhamente


Make Up

Moça que se maquia
Na frente do moço que a vê
Com o olhar ela pergunta 
O que o olho dele crê. 
Com sorriso ele responde 
Que é bonito de se ler. 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Lembranças de um tempo fazia frio

Não. Não gosto de calor imenso, nem de frio intenso. 
No frio trabalho melhor. 
Se é para isso que o frio serve. 
Para que serve o frio?

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Branco ou cinza?

Incomodava-lhe o fato de que a medida que o tempo passava sua mulher ia ficando mais e mais parecida com Ian McKellen. 
Tinha medo de acordar do lado de Gandalf.  

Selvageria

Amor
Tal qual onça na mata
Não sabe de onde vem
Nem quando te ataca. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Métal Hurlant

Durante o ataque histérico
Colocou suas mãos no meio das pernas para conter os gritos.

Desregras

Defecava regulamentos com a profusão de quem comia sorbitol de colher.
Mas era incapaz de limpar-se sozinho.

domingo, 26 de janeiro de 2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um pouco mais de comiseração (a partir de uma canção do Vinicius)

Não tem porquê.
Complica demais.
Meu coração não é capaz
De discernir seu sim do não.

Por um lado sigo.
Não sei se consigo.
Do outro desligo,
Tento só ser amigo.

Suas verdades não entendo.
Suas sinceridades eu confundo.
A única realidade está
No amor
           ou na amizade.

Perdido

Saiu desesperado do bar. Zonzo de tanto beber, tropeçou nas pessoas na calçada. Enfiou as mãos nos bolsos para se certificar que as chaves estavam lá. Ufa, estavam. Mas ainda assim isso não o acalmava.

 Olhou para a rua, tentando lembrar o caminho até fizera. O nervosismo tomara conta e a ansiedade o fazia suar em bicas. A camisa começava a se molhar toda. A sua cara de desespero chamou a compaixão da moça que estava do seu lado.

"Tudo bem com você, cara? Você está passando bem?"

"Não, não. Tudo errado."

"Será que posso ajudar?" disse a menina. "O que foi?"

"Não estou encontrando. Você não pode me ajudar!" respondeu quase histérico. 

"O que houve? Diga!"

"Onde é que fui amarrar meu bode?"

Trilhas

Pra onde eu vou, todo mundo vai. 
Aonde estou, ninguém quer ficar. 
Mas pra onde quero ir, jamais irei.
Então, antes que me mandem,
                       acho que vou à merda. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Indu(r)gências

Tudo urgia
Uma vida
Um mês 
Um dia

Acabou

Segundas

Ainda vou cobrar-te
Os beijos que não me deste. 
As esperanças que me roubaste. 
Os sonhos que espantaste. 
As verdades que não disseste.

E nesse dia 
      des(es)per(t)ar-te-ei 
             tempestades de paixão.
      para poder deixar-te
                             a vontade do amor.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

fantasmas

salescura.
alguém por lá.
oussilencioepassos
pralá pracá.

s/c)(e/i)nt(e/i/a) la
o nadaluz
do es(frio)curo
da noitevida.

(lá)estão
os quem
aquiestar
deveriam.

portafech(o/a)
semsom
e(va)coando
al(uz)ém.


A uma amiga que partiu (em tempos de internet)

Resta lá uma página vazia. 
Restam lá o sorriso e parte da história. 
Restam lá as músicas que ela gostava. 
Restam lá fotos da vida recente. 
Restam lá seus gostos e sonhos. 
Resta lá sua beleza. 

Resta aqui muita lembrança. 

Restarão muita saudades. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014