quinta-feira, 23 de maio de 2013

Cinzas

Me apareceu num sonho como volta e meia vinha. 
Primeiro como um fino broto verde
E com o sonho andou e se tornou madeira. 
O tempo levou as folhas e o tronco virou cinzas. 

Acordei chorando as saudades do meu pai. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Vazio

Do pouco que tenho,
Poupo o pouco,
E pouco a pouco
Nada restará. 

Prosa

Queria tanto aquela mulher que não hesitou um segundo sequer. No primeiro olhar distraído beijou-lhe com a sede dos náufragos.
Surpreendeu-se ao ser correspondido da mesma forma.

Bruto tal qual faminto, abarcou mais que a boca podia aguentar. Permitiu que suas mãos abocanhassem o restante do corpo. Querendo aprisioná-la.

Nenhum tom de cinza faria daquele momento mais intenso. Tudo era carmim, rosa e prosa.

A conversa dos corpos que se descreviam em curvas e dialogavam em dedos e toques. O discurso continuou sem perder a dialética dos movimentos que iam e vinham.
Das mãos e quadris, de boca e nuca.

Aos peitos dedicou o silêncio da boca ocupada. A língua do bruto falava curvas em montes ofegantes. Enquanto a boca da bela, se calava mordendo o lábio.

Perdeu-se na conversa para se achar no vale e nele a boca escorregou até a floresta.
Era mais uma boca a se pronunciar em um rio de calor.


Alívio

Saúde
Acidente inevitável entre doenças
Perseveras
Na podridão.
Saber ser amado alivia os pesadelos da dor
Mas saber-se cuidado,
Cuidado, eleva o alívio do amor.

SRD

Vira-latas
            Vida às latas
Sem lares
Ou moradas.
Sem fins 
Ou paradas.

De casa só tem a vida
Um vira-vidas,
Sem Residência Definida

Trovas Línguas

Tornando ao trava-língua
Tratando de trovar
Trocando a trava pela trova
Buscando te enrolar.
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O testamenteiro testou o texto
Atestando troças
Detestando trapaças.
Testamento traçado no atropelo
Torna tudo intraduzível.
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Carpinei cantos
Pra conseguir campos
Compus campos
Olhando nos cantos.
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Língua lânguida lambe longamente
Lambe loucamente a língua dos lábios calientes.
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Partiu de Paraitinga
Para o poço de Piratininga.
No caminho encontrou moço
Perguntando de Piracicaba.
Perdido na troça
O moço voltou à palhoça.
Procurando a vila de Paraitininga.
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A torneira do motorneiro
Travou no torno.
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Tons transtornados toava o tordo.
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Torno a tomar tererê
Tergiversando o tema.
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Toda travei
Só a lontra não trovei.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Medos

O cinto torna a ganhar dois pontos. 
O cabelo, que normalmente cai muito, está começando a ficar ralo. 
Os olhos fundos me chamam pro infinito. 
A garganta e as narinas queimam a cada vômito. 

Fraquejam as pernas mas não o espirito e levanto toda manhã para enfrentar o inevitável.  

domingo, 19 de maio de 2013

Lucro presumido

No começo restava a esperança que a vida de ermitão lhe rendesse algo. 
E rendeu. 
Calo na bunda, dores nas costas e um tédio imenso.  

Di-lapidar

Pura pedra,
A cruel palavra lapidar. 
Dentro de si a beleza e a morte. 
Dela a pureza e a maldade.

Garimpo

Muitas vezes não mais que carvão sujo e incompleto,
Bruta pedra de carbono prensado,
Os poemas que me surgem
Pedem o cinzel duas vezes,
Uma delas para destruir. 

De sol à sola

No momento que deixei me assolar pelos problemas da vida. 
Eles vieram no formato de um coturno.