quinta-feira, 30 de julho de 2015

Rude, o cão

Acabo de ter agora uma das experiências mais estranhas da minha vida. E olha que de estranhezas eu entendo. 

Voltando de uma ida ao banco, encontro um amigo velho que não via há tempos, passeando com seu cachorro, um labrador lindo. Nos cumprimentamos. Mas no momento que me aproximei, o cachorro desatou a latir para mim. Um latir tão alto e descontrolado que deixou meu amigo assustado a ponto de querer ir embora. Nos despedimos a distância prometendo nos falar pelas redes da vida. 

Quando começou a partir, o cão empacou, olhava para mim e latia, latia querendo vir na minha direção. Não parecia bravo. Parecia que queria algo de mim. 

Falei pro meu amigo para voltar com o bicho, sentei na calçada, e olhei nos seus olhos. 
Nesse momento ele parou de latir e chegou mais perto. Passei minha mão atrás da sua orelha e acarinhei. Nesse instante começou a ganir empurrando minha mão. Estava estranho e, num momento de distração, puxou a guia e pulou em mim e começou a me lamber. Nunca o tinha visto na vida, mas parecia saudoso, triste como não quisesse me deixar ir. Lambeu-me o rosto todo (odeio quando cachorro faz isso) e colocou a pata na minha cara como querendo me consolar, brincar. Foi então que eu percebi o que estava acontecendo. 

Já havia lido artigos científicos que diziam que certos cães percebem variações nas proteínas exaladas pelo odor. Então entendi que Rude, o labrador, havia visto em mim. O que nenhum artigo mencionava era a imediata percepção da doença e a empatia do animal. 

Desatei a chorar, mais que criança, e mais lambidas e mais ganidos. E meu amigo ali sem entender nada. Foram minutos de choros, ganidos e lambança. Sentamos na escadaria da porta do meu prédio e contei o que se passava. Expliquei o motivo da bengala e porque não ia incomoda-lo com as minhas agruras. Mais um tanto de choro e abraços caninos e humanos. 

Nos despedimos prometendo nos ver semana que vem, eu, Flavio e Rude. Um tchau triste e solidário nos separou. 

Foi um jorro de carinho ao qual não estava preparado. Foi bom, mas doeu. Em menos de uma hora recebi de um animal mais carinho e consideração que de pessoas que conheço todo uma vida ou que tive intimidade. 

Obrigado, Rude, por ser mais que humano.

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